quarta-feira, 27 de julho de 2011

Simples como um temporal.

Porque,droga,eu andei pensando no tempo.

***


"Chega simples,como um temporal...
Parecia que ia durar.
Tantas placas e tantos sinais,
Já não sei por onde caminhar.
E quando olhei no espelho
Eu vi meu rosto e já não reconheci
E então vi minha história
Tão clara em cada marca
Que tava ali.
Se o tempo hoje vai depressa
Não tá em minha mãos.
Cada minuto me interessa
Me resolvendo ou não.
Quero uma fermata que possa fazer
Agora o tempo me obedecer
E só então eu deixo os medos e as armas
Eu deixo os medos e as armas
Eu deixo os medos e as armas
Pra trás."

(Priscila Novaes Leone-Pitty)

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Vazio

"O nada é uma das coisas mais difíceis de entender."

Um dia você tem sua vida,sua realidade,seus sonhos,seus amigos,suas atividades,seu cão.
No outro,você continua tendo,mas alguma coisa mudou.E isso muda tudo.
O mundo continua o mesmo-mudando a todo segundo e por isso mesmo,continua igual. Mas algo em você mudou.
E não há explicação, não há lógica. Você simplesmente sente que algo está descompassado.
Talvez seja a sensação de esperar algo que nunca vai chegar, ou a mera sensação do fechar das portas. Talvez seja olhar ao redor e pensar no que fazer com todas aquelas coisas que dentro em breve não terão mais nenhuma utilidade.
Pode ser a consciência de que quem você deseja encontrar não poderá mais ser quem você deseja encontrar.
Talvez seja encarar o fato de que o seu reduto feliz tenha se fechado e você não tem mais onde brincar de fugir do seu chato,e previsível,e óbvio mundo real.
Pode ser a consciência dos momentos que se foram,e aos quais nenhum outro se assemelhará. Pode ser a sensação acachapante da última vez.
Talvez seja aquele número,que é só um número,mas que encerra tantas pressões com as quais você não queria lidar, as quais você pode ignorar, mas aquela porta fechada faz tudo parecer tão mais difícil.
Talvez seja o crescer alheio tornando tão claro a sua pequenez.
Talvez seja o grande círculo que vai reduzir drasticamente, e embora nem todos seus elos sejam fortes,você gostava de sua existência.
Talvez seja o não esperar. O refazer frustrado. O se conformar.
Talvez isso tudo seja o resumo do meu nada.

sábado, 23 de julho de 2011

Triste

Eu hoje acordei triste, - há certos dias
em que sinto esta mesma sensação...
E não sei explicar, qual a razão
porque as mãos com que escrevo estão tão frias...


E pergunto a mim mesmo: - tu não rias
ainda ontem tão feliz... diz-me então
por que sentes pulsar teu coração
destoando das humanas alegrias?...


E, nem eu sei dizer por que estou triste...
Quem me olha não calcula com certeza,
o imenso caos que no meu peito existe...


A tristeza que eu sinto ninguém vê...
- E a maior das tristezas é a tristeza
que a gente sente sem saber por quê!...

(J.G.de Araújo Jorge)

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Ponto final.

Este é o prefácio do CD Skylab X, o último do Rogério Skylab, de autoria do próprio e lido por ele no programa do Jô:

"Para você que comprou esse disco, coisa rara hoje em dia, vou propor um trato, um texto: Que tal assistir à minha morte?
São várias as formas de morrer: estricnina, asfixia, tiro no ouvido. Mas a nenhuma delas se compara o ponto final. É com ele que vou me despedir.
Acalentei esse instante por 20 anos, e a cada disco protelava o gesto. As vírgulas, as reticências, eram atos de desespero, e a cada sílaba se escondia o ponto, como um olho negro me fixando. Este disco é a sua tradução. Os anteriores também o eram. Todos os meus pensamentos, o gesto de acender o cigarro, a forma de caminhar pelas ruas, meu olhar distraído, tudo era tradução. Como poderia ser diferente? Entrei pela porta dos fundos e estou saindo por ela. Me tornei uma sombra cujo nome certamente alguém já ouviu falar, sem saber muito bem aonde (sic). Sem mais delongas, porque a vida urge e alguma coisa muito importante deve estar acontecendo por aí. "

Resolvi transcrevê-lo aqui pois de uns dias pra cá, compreendi melhor o ponto final. E,de certa forma,aqui e ali neste texto identifico muito do que estou sentindo.

"The end"?



Entrou no quarto,respirou fundo e soriu: era chegada a hora.



Lentamente,e tomada por um misto de nostalgia e empolgação, começou a preparar as coisas.



Meia-calça preta,a saia,sapato boneca,gravata...Ah,a gravata! A única coisa que não conseguiu fazer por ele foi aprender a dar nó em gravata,pensou.Camisa branca,suéter,o cachecol.Que bom que o tempo frio está permitindo usar em paz esta roupa de inverno europeu. Por fim, a capa. A bela capa em tons de azul, com seu lindo brasão que ela teve medo de trocar-vai que acontece uma tragédia às vésperas do grande dia?



Consegue até sorrir lembrando da primeira tentativa de fazer parte daquele mundo. Deu tudo errado ao tentar copiar a capa do seu ídolo. Deu azar,pensa ela. Mas graças a isso, precisou fazer outra. E com isto,ganhou duas amigas. Que lhe trouxeram mais uma amiga. E isso mostra o sentido da coisa toda.



Os cabelos presos numa bonita trança, tentativa de parecer uma indiana. Pensa marotamente que aquilo foi o que deu pra arrumar, afinal, não daria para ser loira e nem oriental. O bindi azul, assim como a unha-afinal, ela é do lado azul da força. Lembra então que sob o mesmo brasão reuniu-se com gente de SP, do nordeste, até mesmo de Portugal. E eles leram as histórias que ela criou,e vice-versa, e trocaram presentes,e ficaram amigos.



Está quase na hora de sair.



Os trajes já estão em parte vestidos e ela se maquia. E lembra das tantas outras vezes em que aquele ritual se repetiu, com tantas outras garotas reconhecendo personagens na companheira que dividia o espelho. Lembra-se de um baile não tão feliz, mas que serviu para estreitar amizades e lhe dar o primeiro sinal de que amigos são uma coisa, companheiros de atividade são outra. Tempos depois, ganharia uma nova amiga que também estivera no baile.



Lembra da aventura em São Paulo-onde afinal estava com a cabeça para gastar tanto dinheiro por um dia em São Paulo? Ah,mas ela foi tão feliz... E caminhar pela Paulista sozinha, à noite, lhe deu a sensação de que sim, ela pode. O quê? Tantas, tantas coisas...



Tantas coisas ela aprendeu naquele mundo que estava prestes a fechar as portas...



O último dia reservara uma noite especial. Ela estaria em um dos lugares mais lindos da cidade. Tinha custado muito sono e cansaço,e doses de café, mas ela estava feliz. Sabia que não era acaso: aquela noite haveria de ser inesquecível, e ela sempre se lembraria ao olhar para aquele lugar encantador.



Enfim, estava pronta.



Cabelos, roupas, maquiagem,bindi,o pingente. Tudo que não podia faltar estava em ordem. Era hora de sair.



E ao pisar na rua para viver aquele momento pela última vez, já não importava se ela tinha ingressado naquele mundo desde o início ou se chegara com anos de atraso: ela estava ali, aquela história também lhe pertencia, e ela iria celebrá-la. Pouco importavam sua pouca beleza e fotogenia, aquelas roupas lhe faziam sentir-se a mais bela dentre as damas, e seus menos de 160 cm agora lhe pareciam mais de 180, pois era com orgulho e altivez que caminhava. Caminhava pra aquele lugar maravilhoso. Para as alturas. Caminhava em direção ao adeus. Mas não estava triste, não queria estar. Era a noite do aplauso, da consagração. Era a noite mais aguardada de sua vida.



Saudades? Sim. Tristeza? Não. Porque em vez de sofrer uma Quarta-feira de cinzas, ela preferiu o esplendor de uma apoteose gloriosa.






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NOTA:Esta postagem começou a ser escrita no dia 13/07.A ideia era publicá-la no dia 14, mas não foi possível.



E nas últimas 72 horas, tanta coisa mudou...