segunda-feira, 18 de julho de 2011

"The end"?



Entrou no quarto,respirou fundo e soriu: era chegada a hora.



Lentamente,e tomada por um misto de nostalgia e empolgação, começou a preparar as coisas.



Meia-calça preta,a saia,sapato boneca,gravata...Ah,a gravata! A única coisa que não conseguiu fazer por ele foi aprender a dar nó em gravata,pensou.Camisa branca,suéter,o cachecol.Que bom que o tempo frio está permitindo usar em paz esta roupa de inverno europeu. Por fim, a capa. A bela capa em tons de azul, com seu lindo brasão que ela teve medo de trocar-vai que acontece uma tragédia às vésperas do grande dia?



Consegue até sorrir lembrando da primeira tentativa de fazer parte daquele mundo. Deu tudo errado ao tentar copiar a capa do seu ídolo. Deu azar,pensa ela. Mas graças a isso, precisou fazer outra. E com isto,ganhou duas amigas. Que lhe trouxeram mais uma amiga. E isso mostra o sentido da coisa toda.



Os cabelos presos numa bonita trança, tentativa de parecer uma indiana. Pensa marotamente que aquilo foi o que deu pra arrumar, afinal, não daria para ser loira e nem oriental. O bindi azul, assim como a unha-afinal, ela é do lado azul da força. Lembra então que sob o mesmo brasão reuniu-se com gente de SP, do nordeste, até mesmo de Portugal. E eles leram as histórias que ela criou,e vice-versa, e trocaram presentes,e ficaram amigos.



Está quase na hora de sair.



Os trajes já estão em parte vestidos e ela se maquia. E lembra das tantas outras vezes em que aquele ritual se repetiu, com tantas outras garotas reconhecendo personagens na companheira que dividia o espelho. Lembra-se de um baile não tão feliz, mas que serviu para estreitar amizades e lhe dar o primeiro sinal de que amigos são uma coisa, companheiros de atividade são outra. Tempos depois, ganharia uma nova amiga que também estivera no baile.



Lembra da aventura em São Paulo-onde afinal estava com a cabeça para gastar tanto dinheiro por um dia em São Paulo? Ah,mas ela foi tão feliz... E caminhar pela Paulista sozinha, à noite, lhe deu a sensação de que sim, ela pode. O quê? Tantas, tantas coisas...



Tantas coisas ela aprendeu naquele mundo que estava prestes a fechar as portas...



O último dia reservara uma noite especial. Ela estaria em um dos lugares mais lindos da cidade. Tinha custado muito sono e cansaço,e doses de café, mas ela estava feliz. Sabia que não era acaso: aquela noite haveria de ser inesquecível, e ela sempre se lembraria ao olhar para aquele lugar encantador.



Enfim, estava pronta.



Cabelos, roupas, maquiagem,bindi,o pingente. Tudo que não podia faltar estava em ordem. Era hora de sair.



E ao pisar na rua para viver aquele momento pela última vez, já não importava se ela tinha ingressado naquele mundo desde o início ou se chegara com anos de atraso: ela estava ali, aquela história também lhe pertencia, e ela iria celebrá-la. Pouco importavam sua pouca beleza e fotogenia, aquelas roupas lhe faziam sentir-se a mais bela dentre as damas, e seus menos de 160 cm agora lhe pareciam mais de 180, pois era com orgulho e altivez que caminhava. Caminhava pra aquele lugar maravilhoso. Para as alturas. Caminhava em direção ao adeus. Mas não estava triste, não queria estar. Era a noite do aplauso, da consagração. Era a noite mais aguardada de sua vida.



Saudades? Sim. Tristeza? Não. Porque em vez de sofrer uma Quarta-feira de cinzas, ela preferiu o esplendor de uma apoteose gloriosa.






**********






NOTA:Esta postagem começou a ser escrita no dia 13/07.A ideia era publicá-la no dia 14, mas não foi possível.



E nas últimas 72 horas, tanta coisa mudou...









Um comentário:

  1. Perfeito.
    É visceral esta necessidade... eu invejo, de forma positiva. Eu queria ter estado neste mundo há mais tempo. Invejo os outros que a tiveram por mais tempo do que eu pude. Invejo este mundo que a tem tão pacifica e intensamente, preocupada e ativa, forte, determinada. Impassível e conquistadora. Este mundo a fez crescer. Eu o agradeço por isso.

    ResponderExcluir