domingo, 29 de maio de 2011

XXI ?

Hoje eu ouvi uma história que parecia ter saído da idade média.
Era um amigo meu, gay, contando como seus familiares mudaram o modo de se relacionar com ele após descobrir sobre sua sexualidade.
Entre outras coisas, contou sobre impropérios que é obrigado a ouvir de pessoas que simplesmente não têm o direito de dizê-los,além de ser desqualificado o tempo todo como ser humano,somente e tão somente por querer ter o direito de amar quem quiser.
A voz triste e o olhar angustiado dele me deram uma grande noção do tormento que ele está passando. Não é a primeira vez que ouço algo do gênero, mas o teor das palavras eram muito fortes, e como -felizmente- nunca tive em casa exemplos de discriminação, eu não consigo compreender realmente como alguém pode destratar um ente querido por essa questão.
Isso,duas semanas depois de eu ter ouvido na maior rádio da cidade, pessoas dizendo que "deus fez o homem para a mulher e vice-versa, isso é o normal. Quem sente diferente tem que resolver com psicólogos,terapeutas,etc."
Me respondam,por favor: já chegamos realmente ao século XXI ?


quinta-feira, 26 de maio de 2011

O Beatle e eu

Não gosto dos Beatles,para espanto de 90% dos meus amigos. Mas antes que peguem a machadinha, aviso que não gosto,mas respeito. Afinal,posso não gostar, mas não sou burra para menosprezar quem tem uma história de sucesso que dura mais tempo do que eu tenho de vida.
E embora não goste dos Beatles (excluindo-se as músicas Twist and shout, Let it be e Hey Jude), senti,conforme twittei no momento,uma estranha emoção quando vi no meu humilde bairro algumas faixas que anunciavam o show de Paul McCartney no Engenhão. Ver faixas orientando o trânsito no dia do show, semelhantes às que colocam na época do carnaval, bem ali no Engenho de Dentro, de alguma forma me tocou.
O show não me passaria despercebido mesmo, uma vez que eu acolheria três gaúchas fofas e uma carioca errante como hóspedes, já que moro em local estratégico. Mal sabia eu que ganharia um petisco,e,para minha surpresa,tal petisco se tornaria uma lembrança especial.
O fato é que na segunda-feira,27/05/11,ao chegar da minha batalha na Ilha do Governador,constatei que da minha casa dava para ouvir alguns ecos do show. Na noite anterior eu ouvira,em menor intensidade,mas imaginei que fosse alguém ouvindo pela internet. Desta vez,apurei que era ao vivo mesmo."Legal",pensei.
Como era hora do Faruk passear,catei a guia e saí de cachorro em punho. Na rua,o som era bem nítido e não pude deixar de pensar que de algum modo era um privilégio ter o áudio do show assim,0800. Apesar de não gostar dos Beatles e não ter nenhuma admiração especial pelo McCartney, realmente me senti empolgada, o que se agravou quando ouvi umas senhoras gritando "Paul lindooooo" da varanda de um prédio.
Pensei com meus botões: ele podia tocar as músicas de que gosto, né? Twist and shout não tocaria mesmo,mas as outras duas,quem sabe? Cheguei a pensar em sentar na praça para esperar,mas tava frio e eu tenho bom senso,então,é claro que não o fiz,mas no fundo,mantive a esperança de que ele as tocasse.
E não é que tocou?
Quando eu estava chegando ao ponto em que o áudio era perceptível com mais clareza,ouvi os primeiros acordes de Let it be. Parei na hora,cachorro na mão,para ouvir.
É. Eu me emocionei.
Verdade seja dita,conheço melhor uma versão gospel em português desta música do que a original. Mas acho que isso mesmo foi o motivo da emoção,pois lembrei da minha amada mãe, há quilômetros de distância do show,do bairro e de mim.
Terminada a música, fui caminhando e já me sentia satisfeita. Peguei o rumo de casa, e de repente me dei conta de que esta ouvindo Hey Jude!Falei 'vambora,Faruk,eu quero ouvir!',girei 180° voltando pro lugar de onde acabara de vir e ouvi uns trechos da música-não muitos,porque vários carros malditos e até uma ambulância do SAMU resolveram passar na hora.Mas foi uma emoção enorme ouvir aquele "na na na na na na na", eu nem sei explicar. Talvez por imaginar Gabee e as gaúchas curtindo o show,talvez pelas lembranças do passado...O fato é que com essas duas simples passagens, Paul McCartney conseguiu me emocionar.
Como eu já mencionei,não gosto dos Beatles. Mas eles são daqueles artistas que transcendem o fato de se gostar ou não. Você simplesmente não pode passar indiferente à sua presença.Como eu pude comprovar.
Paul McCartney ecoando pelas ruas do Engenho de Dentro e eu passeando com o cão. Não parece ter algo errado nesta frase?Rsrs. Mas não tem.
Ah,quer saber?Foi ÉPICO!
Pronto,falei. E gostei.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

É o fim de tudo?






Daqui a exatos 50 dias,quando as palavras "The end" e os créditos finais subirem, muito mais do que um filme estará sendo encerrado.

Seja para os afortunados que conheceram a saga ainda crianças e cresceram junto com Harry, seja para adultos que embarcaram no Expresso de Hogwarts em suas primeiras viagens,ou para os retardatários que descobriram essa paixão tardiamente,mas se entregaram a ela de corpo e alma, o fato é que quando Harry Potter e as relíquias da morte-parte 2 chegar ao fim, letras e créditos significarão, mais do que qualquer coisa, o fim de uma era.
Para quem leu os livros e acompanhou os filmes,será a hora do respiro final. De pensar: acabou. De sentir saudades, mas enfim, vida que segue:que venham outras obras. Mas para quem viveu Harry Potter, ah... Aquele segundo que separará a última cena do fim de tudo terá um sabor estranho, especial e doloroso ao mesmo tempo, e que nem mil palavras podem explicar-e creio que mesmo depois de passado o momento, não haverá como fazê-lo. Muitos ficarão parados, encarando a tela, sem querer acreditar que o momento chegou. Outros abraçarão seus amigos, sorrindo ou chorando, sentindo a emoção que será inevitável. Ninguém passará indiferente por este momento.
Afinal de contas, depois de viver Harry Potter, como olhar para trás e imaginar a vida sem ele? Tantas histórias nasceram, se cruzaram, se reinventaram. Meninos e meninas que viraram jovens e hoje são adultos,cresceram esperando o próximo livro e sonhando com o próximo filme.A descoberta da leitura através de um mundo mágico, onde todos sonharam,mesmo que só uma vezinha, conhecer.Para dizer o mínimo. Porque tem muito mais: as tardes sentados no chão de um shopping falando de um livro, e depois sobre a faculdade, e depois sobre tudo... Encontros de fãs enlouquecidos nos parques da cidade, e o nascimento de amizades que talvez nunca fossem possíveis se J.K.Rowling não tivesse feito aquela viagem de trem...
Quando o filme terminar, muita coisa vai mudar. Alguns, já "adultos demais", não farão questão de manter em seu ciclo de amizades aquelas pessoas que viveram a magia. Outros, ocupados demais, deixarão as lembranças esmaecerem e tudo parecerá ter sido em outra vida. Haverá até aqueles que, enrubescidos, comentarão sua paixão Potteriana em voz baixa,afinal,depois de crescerem,passarão a achar que foi "pagação de mico".
Mas a maioria,a esmagadora maioria,saberá muito bem o que significou Harry Potter em suas vidas.

Terá sido uma infindável fonte de alegrias e momentos incríveis e marcantes. Seja pelos eventos,grandiosos ou menores; Seja pela maluquice de andar de cosplay,despertando olhares curiosos;seja pela obsessão em conseguir mais um objeto,mais uma figurinha, aquela varinha linda que o fulano sabe fazer.Mas,sobretudo: pelos amigos maravilhosos conquistados nessa estrada. Amigos tão preciosos que só eles já valeriam a J.K.Rowling todas as honras e glórias.

Para quem viveu Harry Potter,não é o fim de nada.
Faltam cinquenta dias.Cinquenta dias.
Dez anos passaram tão rápido...

A franquia termina. Mas a magia está apenas começando.
É o fim da saga. E o início da lenda.

domingo, 8 de maio de 2011

Mamãe,mamãe,mamãe...




Dia das mães!




Como de costume,liguei para a minha,que está há muitos quilômetros daqui,em sua terra natal-Sobral,/CE. Desta vez,sem choradeira ao desligar o telefone,porque ela estava super animada e,além disso,quando eu me identifiquei como "a filha do meio" ela teve que contar para saber quem era. Não que ela tenha uma penca de filhas,são apenas três. Mas ela se confundiu com a que faleceu há vários anos,então...Foi engraçado ver que ela não apenas se confundiu na ordem de chegada como não reconheceu a minha voz. Não que ela seja distraída, é que ao telefone minha voz é idêntica à da minha irmã.




Hoje passei o dia recordando como era na minha infância. Mãe era um negócio assim,tipo Deus. Era Ele no céu e ela do lado,tomando conta pra ver se O Cara não ia fazer besteira. Palavra de mãe era lei. Não podia ser contestada, colocada em dúvida,essas coisas. A mãe falava,tava falado. E ponto.




Lembro que eu detestava quando eu falava que eu queria ou não queria alguma coisa e minha mãe dizia: "VOCÊ NÃO TEM QUERER!". Dava uma raiva danada,mas era assim. E aquela história de "Quando eu fizer 18 anos..." que a gente dizia,prometendo ser dono do nariz ao completar maioridade? Mamãe mandava logo essa: "Enquanto morar debaixo do meu teto e comer da minha comida,você não se manda". TOMA! Escolher comida?Haha.Isso não existia. "O que tem é o que há",essa era a regra. Ou comia ou passava fome.Ou entrava na porrada,o que era mais provável acontecer com as filhas de dona Graça.




Nos meus tempos de criança,mães eram barraqueiras como são hoje. Não se podia mexer com os rebentos que o rebu começava. Mas as mães barraqueiras eram cuidadosas também. Ter filho esculhambado andando pela rua era motivo de vergonha, ninguém queria isso. Por isso a criançada andava arrumada e bem cuidada. A gente brincava horas na rua e lá pelas 17, 18 H as mães começavam a chamar: era a hora do banho,de sossegar a bunda em casa vendo TV, depois a janta e enfim,dormir. Cedo. Porque no dia seguinte tinha aula. Quando ficávamos maiores,podíamos ficar até mais tarde na rua com os amigos, mas às 22H começava a sinfonia: Daiane!Bebete!Wanessa!Jonas!Elton!Edinéa!Diego!Eram as mães chamando os adolês,cansados dos pique-escondes e de tacar pedras em tetos de zinco(e sair correndo) para dormir.




Mãe tinha poder no olhar e mão pesada. Geralmente elas davam uma advertência quando fazíamos bobagens, e era só um olhar,um carão feio. Quando a gente abusava,aí...Bolachão,pra largar de ser besta!E não tinha essa de encarar a mãe e invocar o Estatuto da Criança e do Adolescente não(aliás,os poucos que se atreviam a isso tinham como resposta a ameaça de engoli-lo em breve)!Apanhou,o máximo que acontecia era esperar o pai chegar e fazer fofoca pra ele.Não raramente,para ouvi-lo dizer:se sua mãe te bateu é porque alguma merda você fez.




Aaah,as mães de antes...




Hoje em dia é tudo diferente. Neguim responde a mãe com o mesmo tom e palavras que usam com os amigos da gandaia. Criança pequena já grita com a mãe,bate nela,"eu queeeeeeeeeeeeeroooooooooo!",escolhe o que quer fazer,a hora que vai dormir,até a roupa que vai usar pra ir à escola. E,salvo honrosas exceções,mães hoje em dia não se importam se o filho está mulambento pela rua. Aliás,hoje em dia mãe só é mãe com certeza por 9 meses. Depois que o filho nasce, a maternidade vira opcional.




Enfim...Pra quem tem ou teve uma mãezona como a minha,um FELIZ DIA DAS MÃES! Aproveitem suas mães,curtam,amem. Porque ter uma boa mãe,hoje em dia, é privilégio para poucos.

*Na foto,eu e dona Maria das Graças,ou Dona Graça,como é mais conhecida. Nós duas em Sobral,terra que aprendi a amar desde pequena. Minha mãezinha amada,que sempre me constrange dizendo que eu sou uma filha maravilhosa.Ah,mamãe...Se eu fosse mesmo,nosso dia das mães teria abraços e beijos ao vivo.